Dez anos após acidente, Brasil ainda sonha em lançar foguete nacional
A torre de lançamento na base militar de Alcântara, no Maranhão, foi modernizada há pouco mais de um ano, mas ainda espera sua grande estreia: o lançamento bem sucedido de um foguete de tecnologia brasileira.
O VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites) pegou fogo há exatos dez anos, ainda na plataforma, onde trabalhavam 21 homens nos últimos ajustes do foguete. Faltavam apenas três dias para o lançamento, mas a equipe foi surpreendida quando o equipamento de 50 toneladas entrou em ignição, às 13h26 do dia 22 de agosto de 2003. E quando ele tentou voar, queimando o combustível das quatro fases, ele levou junto a estrutura montada ao seu redor, que só é retirada antes do lançamento, e matou todos os funcionários.
Nos dois testes anteriores, feitos em 1997 e 1999, os motores, o sistema elétrico e de controle funcionaram normalmente, mas o foguete não chegou a completar sua missão. Problemas técnicos e distintos impediram que os satélites de dados e científicos, a chamada carga útil, fossem colocados em órbita, afirma a IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), que é responsável pela fabricação dos foguetes nacionais.
Isso significa que o erro do primeiro protótipo não foi repetido na segunda tentativa de voo, e nenhuma das duas apontou a falha na ignição que causou o desastre anos mais tarde, em 2003.
Concluída em 2005, a investigação da comissão internacional não chegou a apontar culpados ou explicar o que ocorreu de fato com a ignição - o laudo da Aeronaútica, que conduziu o inquérito policial, apenas descartou sabotagem. Mas o relatório final do grupo indicou a necessidade da modernização da plataforma, dando novos rumos para o programa espacial brasileiro.
"Em projetos complexos como esses, como é um lançamento de um foguete, vários países aprenderam muito com seus acidentes. Os casos dos ônibus espaciaisChallenger e Columbia, que causaram grande comoção no mundo todo, ajudaram a Nasa [Agência Espacial Norte-Americana] a revisar seus programas para evitar grandes acidentes", pondera o físico José Raimundo Coelho, presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira).
Com longa carreira no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espacias), grande referência na construção de satélites, o físico diz que seu maior desafio à frente da Agência, desde maio do ano passado, é "fazer as coisas acontecerem" – e sem levar mais dez anos para isso.
"Quero mudar a percepção das pessoas. Eu ouço de muitos lados, de vários setores, que há um grande descrédito no projeto espacial, mas procuro construir uma agenda positiva para levar até a sociedade a importância do programa brasileiro."
Para isso, Coelho aposta não só na nova torre, mas também na modernização da infraestrutura de Alcântara que, segundo ele, está com 45% das obras concluídas. O governo está concluindo, dentro da base militar, a construção de dois sítios de lançamento: um só para os foguetes da família Cyclone, que fazem parte de um projeto de cooperação com a Ucrânia, e outro exclusivo para o VLS, carro-chefe do programa espacial.
O primeiro voo, no entanto, só deverá ocorrer no ano que vem, ainda sem data definida, como um teste de configuração. Esse primeiro voo não usará toda a potência, ou seja, não terá combustível para "ligar" os quatro motores, já que não tem a finalidade de colocar equipamentos científicos em órbita, mas, apenas, de qualificar seu sistema de navegação.
Só no segundo teste em 2016, o foguete será lançado completo, mas sem levar uma carga útil, apenas um experimento científico. Em 2017, avisa Coelho, o foguete deverá completar sua missão e colocar em órbita, provavelmente, um satélite de comunicação. A região de Alcântara é considerada um bom local de lançamentos por estar próximo do Equador, a órbita mais explorada comercialmente pelos satélites de comunicação.
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